quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Passado e Presente

Se encontrava perdido entre os abismos do passado e o deserto do presente.
Provavelmente se ele se lembrasse do passado, diria que tem medo do presente. Sua memória era imbuída com cenas que não acreditava que teria esquecido. Lembrava agora do aconchego dos pais, das travessuras de sua infância, das noites alegres de natal.

Hoje ele anda sem rumo no deserto do presente, suas pegadas são apagadas logo ao serem deixadas para trás. Caminhava sem distinguir ao certo por quanto tempo, não sabia o tempo que levara caminhando e nem suspeitava quanto tempo caminharia, um dia? Talvez dois, seu corpo estava desidratado e sabia que não aguentaria por muito tempo sem água.

Talvez em algum lugar de sua memória houvesse uma resposta, ou ao menos um modo de sobrevivência, talvez tivesse sido escoteiro e ganho uma medalha de escoteiro do deserto. De fato ao pensar que isso poderia ter acontecido, era cômico, não se olhava como um escoteiro, por mais que seu passado fosse um abismo sem fundo e sem resposta, sabia que seria improvável encontrar algum escoteiro nele.

O que era pior para ele no momento? Não sabia ao certo, a sede? Não, acreditava até que o sol no momento fosse pior que a sede. Então o que seria? O que estava apertando o seu peito e acabando com seus pensamentos? Medo. Tinha medo de morrer ali, tinha medo de desmaiar de sede e nunca mais levantar novamente, curiosamente também tinha medo de sair vivo do deserto, o que faria depois? O que faria se sobrevivesse? Tentaria lembrar de todo seu passado? De como viera parar ali? Teria alguém o procurando? De fato, não sabia e isso talvez fosse a coisa mais assustadora.

Andou por horas, horas que pareciam dias, dias que o levou a uma esperança, esperança, algo sempre bom, correto? O importante dessa esperança que ele ia continuar vivendo por mais alguns dias ao menos, encontrou uma pequena poça de água, será essa sua esperança de sobreviver mais um pouco? Estava em um pequeno oásis, talvez não daqueles que vimos em filmes ou que viram rotas comerciais, apenas uma pequena nascente, parecia ser recente. Um pequeno oásis com uma rala vegetação rasteira e o que parecia ser mais estranho, uma caveira, uma cabeça de um animal parecida com a de um boi. Passar por sua cabeça rapidamente o que um boi estaria fazendo ali, mas estava mais preocupado com sua sede.

Sacia sua sede em alguns minutos, longos e demorados minutos que pareciam ter esgotado a água da nascente, talvez não, mas sabia que não deveria esperar muito.

- Olá, qual é o seu nome?

Claro que não havia ninguém ali, mas o homem sabia que a perguntava havia vindo da caveira. Talvez tenha bebido muita água rápido de mais. Dizem que comer rápido após um jejum prejudica a saúde, claro que não falaram nada sobre água.

- Stephen...

Claro, agora ele respondia calmamente para a caveira.