sábado, 31 de julho de 2010

Atordoado

Charlie desperta rapidamente, seu interfone estava tocando desesperadamente, o porteiro parecia mais nervoso que o habitual, sentia um frio na espinha enquanto percorria a sala até chegar ao aparelho que gritava, atende o aparelho com certa demora em seus movimentos, o porteiro balbucia alguma coisa que sua mente não compreende exatamente o que significa, claro pode subir sua boca involuntariamente responde.
Claro se fosse um assassino psicopata estaria entrando em seu apartamento nesse exato momento, bem iria descobrir isso naquele exato momento, o barulho da campainha consegue soar mais estridente do que o interfone, seu coração dá um pulo, a campainha soava novamente, sentia um péssimo pressentimento sobre aquilo, mas quem diria Charlie nunca acreditou em pressentimentos, abre a porta.
Do outro lado da porta um homem de terno, bem apessoado se encontrava, ele abria um sorriso que formava um contraste com o resto do seu rosto, sério e metódico, um rosto grave de traços caucasianos e um cabelo cortado em estilo militar, não parecia para ele ninguém conhecido. Antes que pudesse pensar em qualquer coisa o homem saca um distintivo e fala imediatamente.
-Posso entrar?
Não é um pedido incomum, ainda mais com um distintivo, apesar de não entender nada sobre aquilo e nem saber se o homem podia entrar em sua casa assim repentinamente, deixou o homem entrar educadamente, Charlie pensa que não conseguiria impedir a entrada do policial, ou agente, ou qualquer coisa assim, ele parecia estar com um semblante bastante sério. O acompanha educadamente até o sofá, oferece uma bebida para o visitante, ele não aceitou e começa a falar subitamente.
-Na verdade não quero tomar muito do seu tempo, sou o agente Duncan.
Agente soou meio pesado aos ouvidos de Charlie, claro ele deve pertencer ao serviço secreto ou qualquer uma dessas agencias que podiam matar sem problemas, seu sangue parecia desaparecer do seu corpo.
-Não precisa ficar assustado, estou aqui apenas para fazer algumas perguntas sobre sua consulta médica.
Ele havia lido seus movimentos corporais corriqueiramente, com certeza não poderia mentir, conseguia perceber que Duncan era capaz de extrair qualquer tipo de informação dele, então decidiu contar sem rodeios a verdade.
-Consulta médica? Se é que pode-se chamar aquilo de consulta.
-Como assim posso saber?
-Eu esperava a solução das minhas dores, ou pelo menos saber o motivo deles, mas só consegui palavras de um louco...
-Um louco? - o agente parecia agora intrigado - Até onde eu sei Charlie, posso te chamar de Charlie? - Charlie acena educadamente - o doutor Turner é um dos melhores médicos desse país, um daqueles que cobra caro.
-Por isso mesmo me sinto mais ultrajado. E sem querer parecer um pouco drástico acho estranho uma consulta médica interessar alguém com sua posição?
-Imagino, gostaria de saber se você pediu o dinheiro de volta, já que saiu insatisfeito dela.
O agente Duncan havia ignorado a pergunta claramente, mesmo assim Charlie decide não persistir nela, não no momento.
-Na verdade não, como pode ver, eu não tenho problemas com dinheiro, ele fez o seu trabalho e por mais absurdo que o médico possa ter soado, ele assim como todos os outros me disse que tenho um problema e como todos os outros é visível que eles estão errados. A diferença é que ele conseguiu me diagnosticar sem nenhum exame.
-Claro e por isso ficou indignado, bem então gostaria de me dizer o que fez nas últimas 12 horas?
Como assim 12 horas? Havia dormido tanto sem perceber? Bem a resposta saiu quase que imediatamente.
-Bem eu estava dormindo, desde quando voltei da consulta acabei deitando e dormindo.
-Você quer me dizer que dormiu por aproximadamente 22 horas?
-Como assim? - Deixou escapar seu pensamento alto, estava agora preocupado, havia dormido 22 horas?
-Quero dizer que você não acha que 22 horas, é bastante tempo para um cochilo matinal?
-Eu nem sabia que havia dormido tanto.
-Então você está alegando que não sabe nada sobre a morte do doutor Turner?

Espera

O homem de preto estava sentado o que em outro momento havia sido um sofá, estava no último andar de um antigo prédio de negócios, um prédio condenado, seria implodido no dia seguinte, por isso era uma boa escolha para ele, poderia esperar e sabia que seus rastros seriam eliminados no dia seguinte, mas mesmo assim estava preocupado.
Em sua mão uma moeda rodopiava, estava atento para cada movimento ao seu redor, olhava fixamente o chão, a moeda passava entre seus dedos mudando constantemente, a moeda mudava de um lado da mão para o outro. Seu pé seguia um ritmo que aparentemente era seguido pela mesma moeda, a cada extremo do dedo seu pé batia em uma mesma variação de tempo, estava aparentemente concentrado nessa atividade.
Finalmente ele abre o sorriso, finalmente quem esperava estava chegando, minutos depois um casal atravessa o umbral da sala em que se encontra, estavam ofegantes e demasiado agitados, o homem de preto fala com certa urgência.
-Vocês foram seguidos?
-Não - responde o homem seguro de si mesmo - Expliquem-me agora o que está acontecendo.
-Meu irmão está vivo - responde a mulher prontamente -, ele fugiu, mas provavelmente ele não se lembra de nada, por isso não entrou em contato, além disso existe uma lista com todos os nomes e endereços dos sobreviventes...
O homem parecia confirmar, estava digerindo tudo devagar, as coisas pareciam fazer sentido. O homem de preto conclui o que parecia obvio para todos naquele momento.
-Eles estão se movendo com urgência, não querem que nos reúnam, temos vários que nunca lutaram ao nosso lado e provavelmente estão fora da lista deles, o importante é encontrar e reunir o máximo de sobreviventes possível.
O homem de preto guarda a moeda no bolso e acena, todos eles entenderam o recado, precisavam se mover e continuar fugindo, eles eram perseguidos por pessoas poderosas e manter o anonimato seria difícil.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sorte

Charlie estava deitado no sofá olhando para o lustre do seu apartamento novo, admirava as peças que o ornamentavam, estava lembrando do dia em que a decoradora vira seu apartamento luxuoso de frente para praia e escolhera todos os móveis e como aquele luxo não combinava ao seu ver com mais nada naquela casa. Mas até aquele dia o Charlie nunca tinha sido rico, na verdade nem ao menos teve o trabalho para galgar essa posição, sinceramente ele nunca deu valor ao dinheiro, havia apostado em uma loteria apenas por brincadeira e a sorte sorriu para ele, lembrou como se tornou um milionário do dia para a noite.
A vida podia ser assustadora para alguns, para muitos o monstro do capitalismo o devorava com indiscrição. Charlie mesmo assim não ligava para certos fatores, mesmo assim mostrava ter sorte a sua vida inteira, nunca foi bom em particularmente nada, mas era um apostador exímio, sempre levou vantagem em jogos de cartas, além de qualquer outro tipo jogo de azar, a vida sempre o desapontara em muitos fatores, a morte de seus pais precocemente em um acidente o havia abalado muito, ir morar com seus tios havia sido um pesadelo, não por culpa deles, felizmente eles o tratavam bem, mas a série de psicólogos que o examinavam e pessoas que o olhavam curiosamente, perguntava como ele foi o único a sobreviver aquele acidente, religiosos o viam como um menino querido por Deus.
Charlie agora refletia sobre suas dores de cabeça e sobre a consulta que acabara de voltar, tudo aquilo parecia besteira, pagara muito caro por aquela consulta, mas o que ouviu no médico parecia ser absurdo de mais para ser real, deitado daquele jeito ele reflete sobre tudo isso e se contorce enquanto as palavras do médico faziam sentido, mas sua mente descrente as refutavam assim que tomavam uma forma palpável.
Ele sentia apenas uma dor de cabeça convencional, havia se convencido, é apenas uma sinusite ou renite, ou qualquer outro tipo de doença que incomodava a cabeça, estava convencido disso, e tudo na sua vida foi apenas sorte. Apenas sorte... Sua mente vaga até adormecer.