terça-feira, 28 de julho de 2009

Cinco anos atrás - parte I

O garoto voava por cima de grandes campos rapidamente, voava sobre um dragão branco, seus cabelos balançavam contra o vento. Carregava em sua cintura uma espada bem adornada, usava uma armadura prateada, ela aparentava pesar o dobro do peso em que um garoto de mais ou menos quinze anos poderia usar, mesmo assim ele a usava. Via ao fim do horizonte o seu alvo, finalmente, após dias de viagem, uma viagem árdua e cansativa, ele finalmente avistava o castelo do seu inimigo.
Jake, ouvia o seu próprio nome, parecia que o chamado vinha do próprio dragão... Jake, ouvia esse chamado constantemente, possuía uma voz vagamente familiar, talvez um dia ela fora ouvida em algum sonho distante. De repente essa voz começou a se transformar em risos, de repente Jake se via em uma sala de aula. Percebeu que havia adormecido durante a aula de história, talvez fosse a voz monótona de sua professora, ou ele simplesmente não dava a mínima para aquilo tudo.
-Você dormiu na minha aula Jake.
Essa afirmação pega o garoto de surpresa, ele prontamente responde apressadamente.
-Não professora, eu estava apenas de olhos fechados. Estou com dor de cabeça, mas eu prestei atenção na aula inteira.
-Muito bom, e porque demorou para responder quando eu chamei? De qualquer forma, me responda, quando foi a revolução farroupilha e os motivos?
A classe inteira suprimia o riso enquanto a professora parecia estar fervilhando com cinismo.
-Durou dez anos professora e começou em mil oitocentos e trinta e cinco. - Jake não sabia exatamente de onde tirou essa resposta, mas era algo que estava fresco em sua mente.- As províncias do sul do país queriam mais liberdade para as províncias.
-De fato você está certo, o que me deixa muito impressionada, já que esse é o assunto da próxima aula.
O coração do garoto havia paralisado, sua cara estava vermelha, a professora ria discretamente do garoto, enquanto a sala de aula o assistia abismado, talvez uma gota de salvação naquele momento foi o sino marcando o final da aula. Jake arruma seu material escolar como um raio e já estava pronto, a professora solta um breve suspiro enquanto todos os alunos saem da sala.
Jake tinha raiva por ter acertado aquela pergunta, provavelmente seus colegas de classe também. Ele na verdade não conversava com ninguém, não de sua classe, não a ponto de dizer que possuía algum amigo nela, em compensação possuía amigos de outras turmas, talvez se fossem seus colegas, não gostariam dele. Mas isso não era importante, apenas gostaria de lembrar de onde vinha aquela resposta. Talvez ele tenha visto em algum programa de televisão.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Pós-morte - parte II

"A morte parece interessante, sempre tive a curiosidade de saber como ela seria, andei por muitos lugares, vi muitas pessoas morrerem, percebo hoje a verdade, estou mais morto que todos esses, estou apático com a vida. Perdi todas as pessoas que gosto, já fiquei a beira da morte. Por isso digo que não estou vivo, fazem anos que não encontro ninguém do passado. Infelizmente eu encontrei hoje."
Esse poderia ser o tipo de pensamento que o homem teria ao entrar em seu apartamento, de fato o teve. Estava irritado e confuso, mas se mantinha em silêncio, tranca a porta do seu apartamento e segue em direção a cozinha diminuta, onde abre uma geladeira e enche um copo com água, aliás a única coisa que tinha naquela geladeira.

-Aceita? - Mostra o copo de água para a jovem que se encontrava em sua casa.
-Não. - Ela respondia enquanto passava o dedo sobre os móveis empoeirados.
-O que veio fazer aqui? - Retrucava o homem como se estivesse insatisfeito com a presença dela naquele lugar.
-Meu irmão fugiu.
-Seu irmão está morto. - O homem se mantinha áspero.
-O que te faz reagir assim? Ele era seu melhor amigo, e agora você não dá a mínima para o que acontece com ele? - Ela parecia estar cada vez mais indignada com a reação do homem.
-E o que você espera que eu faça? Que lute com seu irmão em um próxima batalha suicida? Uma luta sem propósito, na qual o resultado seja um massacre? Você sinceramente acha que vale a pena? - O homem parecia sobrecarregado, parecia que iria desabar a qualquer minuto, ele retira um isqueiro do bolso e um cigarro da cozinha, ele calmamente acende o cigarro e solta uma baforada de fumaça antes de continuar sua fala.- Eu perdi tudo, inclusive meus amigos, agora sai já daqui.
-De fato você perdeu, mas não demonstra querer fazer algo para recuperar.

A mulher, começa a andar em direção a porta, ela parecia ter desistido do assunto. Ao tocar na maçaneta da aporta, ela apenas ouve uma exclamação, "cuidado!", algo estava errado, o homem ainda com o cigarro na boca pula por cima dela, ele a derruba e cai sobre a mulher, nesse mesmo instante a porta que a mulher havia tocado explode, uma explosão forte o suficiente para destruir tudo que havia dentro do apartamento.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Tempestade

O vento soprava forte em sua direção, a tempestade de areia avançava cada vez mais rápido. O homem começa a correr desesperadamente até algum, de fato não tinha idéia do que fazia ali. Sabia apenas precisava de um abrigo, correu, até finalmente ver uma deformidade na areia, algo que parecia ser um vale rochoso. Corria mais intensamente, sentia em suas costas areias o jogando, sentia que podia ser engolido a qualquer momento, seu campo de visibilidade foi drasticamente. Depois de alguns minutos em corrida desenfreada, ele consegue chegar ao vale.
Estava sentado encolhido entre as formações rochosas. O vento uivava sobre suas cabeças, seu coração batia nervoso, agora tinha todo o tempo do mundo, para ao menos tentar onde estava indo, suas memórias buscavam tudo o que poderia encontrar, mas por algumas horas ele apenas via em sua mente, palavras e números. Sentia dores profundas em todo seu corpo, sua cabeça começara a doer intensamente, ele se encolhe mais ainda, até estar em posição fetal, as dores o faziam encolher mais e mais.
Ele pretendia dormir, queria acordar de repente e estar totalmente livre de toda a dor. Seus olhos estavam fechados, o sonho não chegava, mas sim as memórias que viam como a tempestade de areia. Viam desorganizadas e sem sentindo, via memórias que não saberia distinguir se eram reais, ou apenas fruto de sua imaginação.
Lembrava de quando era um pequeno garoto, segurava a mão de uma jovem menina de olhos orientais pelas mãos, as duas crianças estavam de mão dadas, um garotinho com olhos apertados e boca fina, sorriso escassamente a mostras, possuía uns sete anos, mas sem dúvida aparentava ter mais em seus olhos. A jovem parecia ser poucos anos mais nova, mas o suficiente para ser cuidada pela criança mais velha.
O homem perdido no deserto abre os olhos para ver onde realmente estava, sabia que nada mudara do cenário inicial. Como uma segunda rajada destrutiva de vento, outra memória infiltrava em sua mente. Ele estava sozinho agora, estava em uma casa grande, talvez grande de mais para manter uma criança sozinha. A porta é aberta e algumas pessoas entram, um homem aperta os ombros do garoto e anuncia:
-Seus pais estão mortos.
O homem do deserto volta para o mundo real, sentia agora uma dor ainda maior, se encolhe mais e começa a dormir com lágrimas nos olhos.