sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Cinco anos atrás - parte II

Ir andando para escola era entediante para Jake, sempre esperou por mais, sua mente havia criado várias dimensões paralelas e a cada momento do dia ele esperava que algo se tornasse realidade, seria algo como estar em plena sala de aula e pensar que seres gigantes segurando armas como clavas gigantes aparecem e começassem a destruir a escola e pessoas com habilidades impressionantes aparecessem e dissessem que ele tinha poderes. Simplesmente era assim que a mente dele trabalhava, muitas vezes se sentia um idiota por pensar assim.
Seu coração estava pesado e queria no fundo que tudo isso mudasse, que sua vida não seguisse o fluxo comum das coisas, não queria um final como o de todos, apenas queria que sua vida tivesse emoção, que sua vida não fosse movida pelo dinheiro. Tinha apenas quinze anos quando algo semelhante aconteceu com ele, mas infelizmente ele se arrependeu de todos os seus desejos.
Voltava caminhando da escola, todos os dias o mesmo caminho, já não prestava muita atenção nele, sua casa ficava a mais ou menos trinta minutos da escola, chegou em casa, estava silenciosa, algo bastante incomum, ao vagar pela casa encontra seus pais, deitados no chão. Jake os vira, estava assustado seu corpo tremia e ao virar o corpo de sua mãe que jazia ali, via um ferimento redondo em sua testa, o sangue no chão estava seco, assim como na testa de sua mãe, suas lágrimas começam a cair desesperadamente, seu corpo começa a falhar, sentira-se culpado por tudo que já desejara uma vez na vida.
Jake sai correndo desesperadamente daquele lugar e encontra um homem sentado em sua cozinha. Estava bem vestido e usava um par de óculos escuros redondos, nunca havia visto um homem como aquele, era pálido, seus olhos eram negros e fundos, sentia-se preso por aquele homem, não conseguia pensar ou andar, não sabia o que fazer, mas estava claro que fora aquele homem quem matara seus pais. O jovem Jake não sabia o que fazer, queria poder ser forte, queria estrangular aquele homem, mas não conseguia fazer nada naquele momento. Sua mente o havia congelado, ou a presença daquele homem de terno e gravata o haviam feito.
O homem entrelaça os dedos da sua mão em seus longos cabelos negros, estava sentado olhando para o garoto esperando alguma reação, mas ele não tinha, o homem retira do bolso uma arma, parecida com uma pistola convencional, apenas mais larga e mais assustadora.
Uma arma estava sendo apontada para a sua testa, seus olhos estavam molhados, molhados o suficiente para enevoar sua visão, seu corpo estava cansado e sabia claramente que não iria fugir nem fazer nada.
Um tiro é disparado, uma espécie de projétil que o acerta e emite uma descarga elétrica por uns instantes Jake não sabia mais o que estava acontecendo.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Cansaço

Estou deitado sobre a relva e sob o luar, sinto o cansaço em todo o corpo e meus pensamentos correm preguiçosos pela minha mente. Sinto em cada parte do meu corpo uma dor leve, uma dor desgastante. Estou morrendo de sono, mas ao fechar meus olhos não consigo descansar, não consigo dormir, sinto como se não houvesse dormido a dias. Mesmo assim, sinto a sensação de que preciso levantar, de qualquer forma levanto e sinto em cada osso do meu corpo um estalo, como se eu tentasse levantar uma grande máquina pesada e enferrujada. Por algum motivo a palavra máquina soou junto com um frio na espinha.
Sinto uma dor imensa nos meus pés, como se eles estivessem pedindo para eu voltar a deitar, ao redor eu conseguia ver pouca coisa, apenas a escuridão, meus olhos me pediam para voltar a fechar, mesmo não dormindo, meu corpo não conseguia me manter funcionando, mas não era do meu corpo que vinha minha energia, uma força de motivo me movia.
Estava finalmente de pé, mas eu ouço um barulho e uma flecha estava cravada em meu ombro, uma dor percorria por todo meu corpo, com ela uma onda elétrica que imobilizava meu corpo e meus pensamentos, assim como uma onda corre ao sabor do vendo, meu corpo pendia a gravidade, sem forças, sem nenhum tipo de energia para resistir a qualquer tipo de ação. Não sinto mais nenhuma parte do meu corpo e entrava em um transe, algo como um sonho acordado.
Assim o homem acorda, estava no deserto, lembrara como chegara ali, percebera que tivera um sonho incomum, sem muitas imagens ou palavras, apenas uma mistura de sensações. Lembrava aos poucos dos fatos recentes que o levaram até ali, fatos que foram gravados recentemente em sua memória e provavelmente nunca iria esquecer.
Apenas não entendia como viera parar nesse deserto, apenas aparecera. Talvez fosse mais um dos pedaços que precisaria encaixar. Ele se levanta e começa a caminhar, sabia que não encontraria nem água nem algo para comer parado naquele local.

domingo, 18 de outubro de 2009

Minha morte

Hoje foi o dia em que decidi me suicidar, penso em várias formas de suicídio, entre elas pular da janela, amarrar uma corda no pescoço e pular, deixar o gás do fogão sair e acender o fósforo entre outras que talvez não sejam tão emocionantes. Não quero me suicidar porque sou depressivo e acho que não mereço viver, ou simplesmente porque eu não consigo fazer algo, não nada disso, nada muito triste, mas digo que apenas a idéia da morte deixa algumas pessoas triste.
Digo apenas que tive uma história na qual eu não quero mais que ela continue, apenas acho que não tenho mais paciência para continuar vivendo, minha vida é um caos e não sei o porque ainda estou por aqui, tudo começou na minha infância, quando eu ainda estava em um campo de concentração, naquela época essas coisas estavam na moda, todo judeu deveria estar em um campo de concentração, e eu como todo bom judeu estava em um deles.
Não lembro de muita coisa antes disso, minha mente bloqueou boa parte das coisas que aconteceram lá, apenas sei que estava em um lugar chamado Gross-Rosen, algo que eu sempre ouvia ali era Arbeit macht frei, ou como diziam trabalho trás a liberdade, ou algo parecido com isso, sei que muitos anos se passaram até eu ser livre, mas uma coisa que eu acredito é que não foi o trabalho, talvez quando nos mandaram sair do campo, lembro até hoje de tropas soviéticas marchando e nos expulsando de lá, como se fossemos cães, talvez no fundo eu sentia que não era nada superior a isso.
Hoje trinta anos depois, estou cansado, não tenho mais nada que me prenda a esse mundo, talvez eu seja um homem dramático, mas creio que não, creio que talvez o drama seja inevitável, mas não tenho porque continuar, estou cansado de passar por coisas chatas, pequenas e sem sentido, minha vida é um completo vazio, digo isso que a dez anos atrás, comecei a trabalhar em uma empresa grande, sentia como se estivesse finalmente voltando ao meu rumo, me casei um ano depois, dois anos depois tive um filho, hoje eles estão todos mortos.
Queria entender porque algumas pessoas tiram de você tudo o que tem, eu tinha uma familia, assim como tive pais e os perdi mais cedo, os perdi no dia em que fomos expulsos de Gross-Rosen, eles estavam fracos de mais para continuar, assim eu senti o que era perda pela primeira vez, eu ainda era jovem e senti a perda. Não tenho mais o que sentir agora, apenas um simples vazio.
Humanos, são seres cruéis e devastadores, agora vejo minha familia, que sentiu toda essa crueldade, agora sinto que na vida não existe justiça, não existe nenhuma força maior que protege os fracos, depois de tudo que passei, ainda acontecem essas coisas, não fiz nada nessa vida, nada para merecer tamanha coisa, não é pela covardia o motivo do meu suicídio, não é por medo, ou nem mesmo pelo cansaço, estou acabando com minha vida por justiça.
Essa é minha morte e assim que minha vida acaba, a partir de agora, apenas terei vingança, a parte de mim que sente, não sentirá mais e matarei todos, todos que fizeram isso com minha vida.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Pós-morte - parte III

Tudo havia sido destruído naquele apartamento, aparentemente o fogo ainda ardia em vários lugares, a mulher havia sido protegida pelo homem, suas costas havia sido queimadas, queimaduras de terceiro grau, em seu braço poderia ver o branco da cartilagem e o cheiro de músculos queimados estavam no ar, qualquer um haveria morrido com essa explosão, mas não ele, o homem levanta com certa dificuldade, tenta acordar a mulher que parecia apenas ter desmaiado, ele a acorda com certa urgência. Ela estava surpresa:
-Temos que sair daqui. - Comentou o homem.
-Você está bem? Meu Deus suas costas. Você está bem?
-Vamos eles estão vindo, temos que ir.
-Você não pode sair por aí com essas costas de jeito...
Repentinamente, as feridas começam a se cicatrizar, a pele e o músculo cresciam em suas costas desnudas, enquanto o homem procurava uma camisa com seu braço que parecia ser somente osso, em seu armário pega uma que sobreviveu a explosão e rapidamente as veste, a mulher enquanto isso, já estava abrindo a janela do apartamento, foi por ali que ela entrara e parecia ser o melhor lugar pra ela sair, já estava descendo o corrimão, o homem já estava logo atrás dela, ao mesmo tempo uma figura vestida com um terno preto apontava uma arma para os dois. Rapidamente a mulher de branco, pega o homem pelo braço e pula com ele da sacada.
Eles descem rapidamente pelos oito andares, a queda livre poderia parecer interessante, ou até mesmo suicídio, mas ao se deparar com a janela deles rompendo em chamas, aquilo poderia parecer até a saída mais lógica a se tomar, principalmente quando a mulher de branco faz ambos caírem suavemente no chão. Ele a olha um pouco intrigado e começam a correr. Corriam para o mais longe possível.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Magia - parte I

O jovem estava sentado em um banco, era acolchoado e confortável, estava ali fazia quase uma hora, mas sentia que deveria continuar esperando, já havia esperado tanto de qualquer forma, lia uma página atrás do outro, era um livro que ele havia levado, já havia previsto aquela espera. Finalmente a enfermeira o chama:
-Senhor Charlie, Charlie Russel?
O jovem sem falar nada ao ouvir seu nome, se levanta e faz um breve aceno com sua cabeça. Era a primeira vez que estava ali, a primeira vez que ia para um médico especializado em suas dores de cabeça. Um médico que ele trocava a algum tempo e-mails, parece que eles estão na mesma faculdade, apesar de curso diferente, seu professor de literatura o havia indicado.
É guiado pela enfermeira e brevemente chega a sala do médico, uma sala simples como de todo médico. O médico era jovem, mais jovem do que havia pensado, ele cordialmente o cumprimenta com um aperto de mão energético. Charlie se conforta na cadeira de frente ao médico, eles começam a conversar corriqueiramente, o médico começa a indagar sobre a vida do jovem, fatos relacionados as suas dores. Coisas que talvez pra ele não fizessem diferença, mas o médico se interessava cada vez mais.
Depois de uma breve conversa. O médico começa a examinar o paciente, fez uma série de procedimentos de rotina, até que finalmente o médico suspirou:
-Seu problema é magia.
-Magia?- Charlie continha o riso, esperava que agora fosse vir uma piada, ou algo totalmente estúpido que o médico usaria apenas para descontrair. Não foi isso que aconteceu.
-Isso, você vem utilizado suas habilidades mágicas, provavelmente sem saber, talvez em excesso, excesso de mais para seu corpo suportar, por isso você sente tanta dor de cabeça, essa sede incontrolável, além do seu temperamento estar destruído, como você mesmo me contou.
Parecia um absurdo tudo isso para o jovem Charlie, ele havia procurado dezenas de médicos anteriormente, nenhum havia dito nada com clareza, a melhor resposta que tivera, era que suas dores eram genéticas e teria que conviver com elas por toda sua vida. Até que um médico o diz que seu problema era uso excessivo de magia, infelizmente aquilo era uma resposta, era insana mas era uma resposta, talvez o médico estivesse apenas rindo da sua cara.
-E como eu faço pra evitar isso doutor?
-Primeiro você precisa entender o que viria a ser magia...

terça-feira, 28 de julho de 2009

Cinco anos atrás - parte I

O garoto voava por cima de grandes campos rapidamente, voava sobre um dragão branco, seus cabelos balançavam contra o vento. Carregava em sua cintura uma espada bem adornada, usava uma armadura prateada, ela aparentava pesar o dobro do peso em que um garoto de mais ou menos quinze anos poderia usar, mesmo assim ele a usava. Via ao fim do horizonte o seu alvo, finalmente, após dias de viagem, uma viagem árdua e cansativa, ele finalmente avistava o castelo do seu inimigo.
Jake, ouvia o seu próprio nome, parecia que o chamado vinha do próprio dragão... Jake, ouvia esse chamado constantemente, possuía uma voz vagamente familiar, talvez um dia ela fora ouvida em algum sonho distante. De repente essa voz começou a se transformar em risos, de repente Jake se via em uma sala de aula. Percebeu que havia adormecido durante a aula de história, talvez fosse a voz monótona de sua professora, ou ele simplesmente não dava a mínima para aquilo tudo.
-Você dormiu na minha aula Jake.
Essa afirmação pega o garoto de surpresa, ele prontamente responde apressadamente.
-Não professora, eu estava apenas de olhos fechados. Estou com dor de cabeça, mas eu prestei atenção na aula inteira.
-Muito bom, e porque demorou para responder quando eu chamei? De qualquer forma, me responda, quando foi a revolução farroupilha e os motivos?
A classe inteira suprimia o riso enquanto a professora parecia estar fervilhando com cinismo.
-Durou dez anos professora e começou em mil oitocentos e trinta e cinco. - Jake não sabia exatamente de onde tirou essa resposta, mas era algo que estava fresco em sua mente.- As províncias do sul do país queriam mais liberdade para as províncias.
-De fato você está certo, o que me deixa muito impressionada, já que esse é o assunto da próxima aula.
O coração do garoto havia paralisado, sua cara estava vermelha, a professora ria discretamente do garoto, enquanto a sala de aula o assistia abismado, talvez uma gota de salvação naquele momento foi o sino marcando o final da aula. Jake arruma seu material escolar como um raio e já estava pronto, a professora solta um breve suspiro enquanto todos os alunos saem da sala.
Jake tinha raiva por ter acertado aquela pergunta, provavelmente seus colegas de classe também. Ele na verdade não conversava com ninguém, não de sua classe, não a ponto de dizer que possuía algum amigo nela, em compensação possuía amigos de outras turmas, talvez se fossem seus colegas, não gostariam dele. Mas isso não era importante, apenas gostaria de lembrar de onde vinha aquela resposta. Talvez ele tenha visto em algum programa de televisão.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Pós-morte - parte II

"A morte parece interessante, sempre tive a curiosidade de saber como ela seria, andei por muitos lugares, vi muitas pessoas morrerem, percebo hoje a verdade, estou mais morto que todos esses, estou apático com a vida. Perdi todas as pessoas que gosto, já fiquei a beira da morte. Por isso digo que não estou vivo, fazem anos que não encontro ninguém do passado. Infelizmente eu encontrei hoje."
Esse poderia ser o tipo de pensamento que o homem teria ao entrar em seu apartamento, de fato o teve. Estava irritado e confuso, mas se mantinha em silêncio, tranca a porta do seu apartamento e segue em direção a cozinha diminuta, onde abre uma geladeira e enche um copo com água, aliás a única coisa que tinha naquela geladeira.

-Aceita? - Mostra o copo de água para a jovem que se encontrava em sua casa.
-Não. - Ela respondia enquanto passava o dedo sobre os móveis empoeirados.
-O que veio fazer aqui? - Retrucava o homem como se estivesse insatisfeito com a presença dela naquele lugar.
-Meu irmão fugiu.
-Seu irmão está morto. - O homem se mantinha áspero.
-O que te faz reagir assim? Ele era seu melhor amigo, e agora você não dá a mínima para o que acontece com ele? - Ela parecia estar cada vez mais indignada com a reação do homem.
-E o que você espera que eu faça? Que lute com seu irmão em um próxima batalha suicida? Uma luta sem propósito, na qual o resultado seja um massacre? Você sinceramente acha que vale a pena? - O homem parecia sobrecarregado, parecia que iria desabar a qualquer minuto, ele retira um isqueiro do bolso e um cigarro da cozinha, ele calmamente acende o cigarro e solta uma baforada de fumaça antes de continuar sua fala.- Eu perdi tudo, inclusive meus amigos, agora sai já daqui.
-De fato você perdeu, mas não demonstra querer fazer algo para recuperar.

A mulher, começa a andar em direção a porta, ela parecia ter desistido do assunto. Ao tocar na maçaneta da aporta, ela apenas ouve uma exclamação, "cuidado!", algo estava errado, o homem ainda com o cigarro na boca pula por cima dela, ele a derruba e cai sobre a mulher, nesse mesmo instante a porta que a mulher havia tocado explode, uma explosão forte o suficiente para destruir tudo que havia dentro do apartamento.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Tempestade

O vento soprava forte em sua direção, a tempestade de areia avançava cada vez mais rápido. O homem começa a correr desesperadamente até algum, de fato não tinha idéia do que fazia ali. Sabia apenas precisava de um abrigo, correu, até finalmente ver uma deformidade na areia, algo que parecia ser um vale rochoso. Corria mais intensamente, sentia em suas costas areias o jogando, sentia que podia ser engolido a qualquer momento, seu campo de visibilidade foi drasticamente. Depois de alguns minutos em corrida desenfreada, ele consegue chegar ao vale.
Estava sentado encolhido entre as formações rochosas. O vento uivava sobre suas cabeças, seu coração batia nervoso, agora tinha todo o tempo do mundo, para ao menos tentar onde estava indo, suas memórias buscavam tudo o que poderia encontrar, mas por algumas horas ele apenas via em sua mente, palavras e números. Sentia dores profundas em todo seu corpo, sua cabeça começara a doer intensamente, ele se encolhe mais ainda, até estar em posição fetal, as dores o faziam encolher mais e mais.
Ele pretendia dormir, queria acordar de repente e estar totalmente livre de toda a dor. Seus olhos estavam fechados, o sonho não chegava, mas sim as memórias que viam como a tempestade de areia. Viam desorganizadas e sem sentindo, via memórias que não saberia distinguir se eram reais, ou apenas fruto de sua imaginação.
Lembrava de quando era um pequeno garoto, segurava a mão de uma jovem menina de olhos orientais pelas mãos, as duas crianças estavam de mão dadas, um garotinho com olhos apertados e boca fina, sorriso escassamente a mostras, possuía uns sete anos, mas sem dúvida aparentava ter mais em seus olhos. A jovem parecia ser poucos anos mais nova, mas o suficiente para ser cuidada pela criança mais velha.
O homem perdido no deserto abre os olhos para ver onde realmente estava, sabia que nada mudara do cenário inicial. Como uma segunda rajada destrutiva de vento, outra memória infiltrava em sua mente. Ele estava sozinho agora, estava em uma casa grande, talvez grande de mais para manter uma criança sozinha. A porta é aberta e algumas pessoas entram, um homem aperta os ombros do garoto e anuncia:
-Seus pais estão mortos.
O homem do deserto volta para o mundo real, sentia agora uma dor ainda maior, se encolhe mais e começa a dormir com lágrimas nos olhos.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Pós-morte - parte I

Um homem caminhava calmamente pelos lugares mais sujos e imundos da cidade, ratos passeavam pelos becos, assim como os jovens se aglomeravam para conversar e cheirar cocaína as escondidas. Assim esse homem andava com as mãos nos bolsos de seu sobretudo marrom e surrado. A morte rondava aquele local, uma mãe carregava uma criança de talvez cinco anos no colo logo em sua frente, estava parada em frente ao prédio dele, não fazia idéia de quem era, apenas admirava a cena logo a seguir:
A criança por rebeldia se solta da mãe, ela por sua vez tenta a agarrá-la, mas a criança é mais rápida e corre em direção a rua, assim como a criança se desvencilha rapidamente dos braços maternos, um carro a atinge rapidamente na rua e sai em disparada, deixando apenas uma pequena criança estirada no chão.
O homem apenas assiste brevemente a cena e passa sem nem ao menos dar uma atenção maior a isso, muitos anos atrás ele poderia ter feito a diferença, mas não hoje, não nesse momento, ele apenas atravesso os portões do seu prédio e entra em direção ao seu apartamento.
Os corredores do seu prédio não eram muito diferentes das ruas, o chão e a parede eram corroídos por insetos e fungos que tomavam conta daquele lugar, as pessoas gritavam e se agrediam enquanto ele subia calmamente até o seu andar.
Até que com sua chave enferrujada ele abre a porta de sua casa, alguns não chamariam aquilo de casa, era apenas um cubículo, onde se tinha a sala, cozinha embutidas, um pequeno banheiro e o quarta, espaçoso suficiente para caber uma cama de casal, nada mais. Não havia mobílias naquele lugar, apenas uma cama. Na cozinha existia apenas uma cadeira, uma bancada, uma geladeira e um fogão. Todos os móveis da casa eram antigos e em condições tão boas quanto o resto da casa.
Tudo parecia completamente normal naquela casa, exceto pela presença de uma mulher vestida de branco.

domingo, 14 de junho de 2009

Dama de branco

Uma jovem de cabelos curtos sai do taxi, vestia uma calça bem torneada branca, com uma camiseta e um sobretudo igualmente brancos, com botas de couro branco até os joelhos, possuía uma franja que cobria um pouco dos seus olhos amendoados. Se movimentava com uma graciosidade jovial, abaixa e pega do táxi uma caixa de violão e a pendura em seu ombro, em seguida tira de seu bolso uma pequena carteira de couro, onde tira o dinheiro para pagar o taxi, o taxista pega o dinheiro com pressa e sai sem muitas delongas, estavam em um lugar perigoso para essa hora. Ela retira um pequeno pedaço de papel do bolso, confere o local onde se encontrava, estava sozinha em uma rua escura e aparentemente perigosa.
Sentia um calafrio, podia ouvir o sussurro das paredes, elas diziam mais do que aparentavam, postes antigos a iluminavam vagamente, talvez ninguém tivesse o trabalho de se arrumá-la, a jovem fugia claramente daquele ambiente, o prédio que agora entrava, parecia ser o melhor lugar, talvez seja o prédio onde menos ocorreram mortes.
Entrava por uma portaria vazia, via um elevador, parecia estar quebrado, mesmo que estivesse funcionando, não parecia uma boa idéia usá-lo. Era um prédio antigo e tão tenebroso quanto a rua. Sentia o vento frio ali, subia as escadas apressadamente. A jovem de cabelos curtos subiu rapidamente até o quarto andar. Estava no andar desejado, procurava pelo apartamento 403, procurar seria algo extremamente exagerado de dizer, ela ia em direção ao apartamento 403, ela bate na porta e rapidamente ela se abre, um homem de óculos e roupas pretas estava do outro lado, eles se cumprimentam rapidamente e ela entra em um humilde apartamento.
Ao entrar percebe que um homem estava amarrado em uma cadeira, parecia estar vestido com uma batina, sua cara estava disforme, com bastante hematomas, além de estar desacordado, ela não o reconhecia, o homem de óculos tranca a porta e finalmente diz:
-Seu irmão conseguiu escapar.
A mulher viajara muitos quilômetros e sentia agora que a cada momento de sua viajem valeu a pena, esperava apenas saber algo do seu irmão, mas essa foi a melhor notícia que poderia ouvir.
-E onde ele está?
-Ninguém sabe, creio que nem ele, até onde entendi, seu irmão foi fortemente drogado e perdeu a memória.
A mulher anda um pouco pela cadeira, senta pesadamente sobre a cadeira e simplesmente pergunta fatidicamente.
-O que faremos agora?

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Fuga - parte III

As pernas não agiam como gostaria, estavam a muito tempo inutilizadas, armas apontavam em sua direção, não conseguia dizer pra suar pernas o que elas precisavam fazer, algo o impedia de salvar a própria pele ou talvez apenas a fuga. Os homens possuíam armas estranhas, pareciam como metralhadores feitas de plástico, além de usarem uniformes muito chamativos, um deles deu ordens em uma língua desconhecida para o fugitivo.
Sua adrenalina estava ao máximo, seus olhos iam para lugares inóspitos em direção aos guardas, uma rajada de adrenalina cobre seu corpo e agora tudo parecia mais devagar, seus movimentos, os guardas, conseguia ver calmamente os dardos de tranquilizantes indo em sua direção calmamente, no momento queria apenas correr, seu coração palpitava e uma enorme força de vontade dava forças as suas pernas, vamos ele pensava, em uma fração de segundo, suas pernas respondiam, ele virava em direção ao parapeito de aço onde se encontrava e seguia em direção a uma descida, que o levava até o hangar, sabia que iria sair de uma situação ruim e iria acabar em uma possivelmente pior. Mas esse raio de esperança fazia com que suas pernas dobrassem em uma velocidade assustadora para a situação que elas se encontravam.
Tudo voltava ao normal, exceto pelo palpitar acelerado e um punhado de guardas ao seu encalço, uma nova sirene havia começado a tocar, todos os aviões começaram a decolar ou serem recolhidos, os olhos do fugitivo espressava tristeza. Faltava tão pouco, era o que pensara nesse momento, estava na parte de baixo, a pista de pouso, via guardas por todos os lados, mais guardas em seu encalço. Conseguia ver um pouco longe um avião que ainda decolava, começou a correr novamente, via projeteis passando zunindo por sua cabeça, ele tentava se proteger com caixas de acrilico reforçado, elas estavam a sua esquerda, enquanto o mar estava a sua direita, as caixas guardavam algo que ele não conseguia ver, havia muitas caixas assim, a caixa era basicamente bem maior que uma pessoa, talvez tivesse três metros de altura, ou um pouco menos e algo como quatro metros de largura, talvez um pouco mais. Estava chegando cada vez mais perto do avião e quando finalmente chega a pista de pouso, era tarde de mais.
O avião havia decolado, o último deles, ele agora estava cercado, dezenas de solados a sua frente apontavam armas.
Tudo que o fugitivo queria era sair dali, não queria voltar novamente para a prisão, não queria. Estava de pé e não pensou em nada, a única coisa que ele queria no momento, era sair, sua vontade respondia a seu desejo.
Um hélicoptero circulava por cima do hangar iluminando a situação. De repente, não havia mais o fugitivo, ele havia fugido, havia desaparecido como um grande show de um mágico, só que nesse caso, parecia que o mágico não iria retornar ao palco. Os soldados pareciam tão assustados quanto desolados, o jovem barbudo e magro, havia fugido.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Emboscada

Estava em uma ruela sombria, perdia completamente de vista seu alvo, mas sabia que ele estava ali, o homem de roupa preta parecia farejar sua presa. Rapidamente ele percebe que o padre havia virado em um cruzamento. Aquelas ruas eram estreitas e escuras de mais para alguem que não conhecia aquele lugar encontrar algo ali. Como se houvesse sido planejado o homem de casaco é cercado por um grupo de pessoas, que pareciam o estar esperando naquele lugar. Totalizavam-se quatro homens, bem armados com bastões e facas.
Sentia em seu sangue que fora levado ali de proposito, a injustiça o incomodava, sem dar nenhum aviso ou ameaça um dos homens avança com um porrete, ele impulsiona todo o seu corpo para um golpe devastador, que acerta apenas o ar. O homem de preto havia desviado com toda a facilidade do mundo aquele golpe desavisado. Um soco sai de sua mão fazendo as mandibulas do agressor armado deslocarem, o resto do grupo já estava atacando, por puro reflexo o homem desvia dos próximos cinco golpes, a luta era de fato injusta, assim o homem de preto conclui, aqueles homens que o haviam emboscados nunca tiveram chance. Estavam todos desacordados.
O perseguidor apesar de seu contra-tempo seguia em busca do padre, sentia em suas veias que estava próximo, andava pela rua, repentinamente ele abre uma lata de lixo grande e tira dali o que parecia ser o seu alvo. O padre tremia de medo e pavor, aquela figura grande pálida e brutal o encarava com toda frieza do mundo - Eu o encontrei - se vangloriava o homem de preto.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Fuga - parte II

Estava em um corredor sombrio e metálico. Seus pensamentos eram interrompidos por uma sirene que causava uma dor lancinante em sua cabeça. Pedia com todas as suas forças para andar mais rápido, queria arriscar uma corrida, mas sabia que isso era demais para si. Caminhava desesperadamente em busca de algo que pudesse o levar para um lugar seguro. Passava por algumas encruzilhadas, estava agora em um corredor cheio de portas, portas metálicas e aparentemente sem maçaneta. Ele chega perto de uma e ela abre educadamente, talvez essa fosse a melhor alternativa, mas de qualquer modo era uma atitude precipitada.
Era uma sala simples e pequena, basicamente haviam apenas uma mesa e duas cadeiras, uma em cada ponta da mesa, sem nenhum enfeite, havia também um porta na qual dava para um banheiro, também simples. O fugitivo aproveita a oportunidade para beber água, algo que fora privado a bastante tempo, bebia sem parar e com uma calma assustadora, poucos mantinham essa calma enquanto fugiam de uma prisão. Ao terminar pensou no que poderia fazer, tinha que sair dali, mas mal se aguentava sobre seus pés.
Saiu da sala ainda se arrastando, estava cansado, queria apenas que tudo aquilo se acabasse e estivesse em algum lugar, calma e longe de todos, mas as sirenes ainda tocam. Tocam sem parar e de uma forma estridente, ouvia-se passos por todos os lados, era quase insuportavel fugir ou desviar de todos os guardas, mas mesmo assim o fugitivo conseguia ir para os lugares mais vazios. Andava por entre corredores até que finalmente chegara em um galpão imenso, dezenas de guardas estavam naquele local. Via-se desde aviões bimotores até jatos, barcos de pesca até um grande cargueiro aportado em um porto, que parecia dali, distante. Estava em uma espécie de parapeito, onde podia ver tudo aquilo a uns sete metros abaixo, o que dava uma boa visão dos guardas, sem ser visto, já que era protegido pelo manto da noite em um lugar remoto.
Ouvia passos ainda mais ocos em seu encalço, tinha que se mover rapido, mas ainda não conseguia correr, fazia uma força sobrenatural para se mover daquele jeito. Nesse momento um avião pousava um pouco longe dali, seu coração palpitava, tinha encontrado uma forma de fuga, talvez conseguisse sair dali sem ser visto.
"Parado!"
Seu plano de fuga havia mudado, havia sido visto, guardas apontavam armas para ele, por onde havia saído.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Noite

Via-se apenas o reflexo do luar em seus óculos, estava vestido de preto, com calças compridas e um casaco de manga, estava com as mãos no bolso do seu casaco e um capuz cobria seus cabelos naquela noite fria. Havia acabado de sair de uma estação de metrô, olha para a lua e a admira, calmamente retira do bolso um pequeno papel dobrado. Ele o desdobra com seus dedos brancos e compridos. Examina o que está escrito e em um breve momento ele coloca de volta no bolso. Andava a passos largos olhando para cada esquina.
Após alguns minutos de caminhada ele para, um homem gordo e careca o encarava do outro lado da rua, ele vestia uma batina e usava uma cruz de prata grande em seu pescoço. O olhar dos dois homens se cruzam rapidamente, percebia-se um olhar frio vindo através dos óculos do homem de casaco, ele coloca as mãos novamente no bolso e atravessa a rua calmamente. Parecia um animal que havia encontrado sua presa e agora brincava friamente com ela.
O padre começa a andar rapidamente em seus passos curtos e acelerados por outro lado da rua. Andava desesperadamente até virar no que parecia um beco sombrio e escuro, seus olhos mostravam claramente o medo, o caçador continuava atrás da sua presa, até dobrar a esquina, não havia ninguém, talvez houvesse sido passivo de mais, mas ainda estava calmo e apesar de não ser possível enxergar alguem naquele beco escuro ele continuava como se não houvesse perdido o padre de vista.

sábado, 25 de abril de 2009

Fuga - parte I

Uma gota de suor escorria em seu rosto, ainda estava amarrado pelos punhos. Não sabia a quanto tempo, na verdade não sabia nem quem era, ou nem se quer por que estava ali. Sentia dores por todo seu corpo, ele lembrava bem disso, lembrava de onde viam as dores, essa lembrança intensificava sua dor. Esses pensamentos foram subitamente alterados por uma dor de cabeça, sabia que tinha sido drogado, realmente deve ter sido uma droga forte. Gotas de suor corriam pelo seu corpo, reparava agora que estava apenas com uma calça surrada, seus pés sentiam o chão gelado.
Um guarda aparece na porta da cela, a porta parecia ser antiga demais, o seu ranger apenas intensificava a dor do prisioneiro, o guarda se aproxima e levanta calmamente a cabeça do prisioneiro pelo queixo, sua barba estava grande e grossa, indicava o tempo que estava naquela cela e sem nenhuma palavra, o guarda desfere um soco em seu rosto. Gotas de sangue tingem a parede do pequeno comodo. O prisioneiro sentia seu sangue fervilhar e como algo automático ele impulsiona com seus pés para cima e rapidamente estava com eles nos ombros do guarda, com uma girada rápida entre pés o pescoço do guarda tinha sido quebrado. O prisioneiro não parecia entender ao certo como havia feito aquilo, talvez nem se quer um alguem que houvesse visto aquela cena a entenderia, o importante que agora ele via uma penca de chaves no bolso do guarda. Ainda com os pés ele pega as chaves e a arremessa para cima a pegando com a boca, usando o cotovelo ele começa a separar a chave, ao ter uma chave do cacho entre os dentes ele tenta soltar suas algemas, assim prosseguiu até a quinta tentativa, quando finalmente encontrou a chave certa.
Seu coração agora disparava freneticamente, estava solto em sua cela, tinha que sair imediatamente, suas pernas não obedeciam ao seu chamado, talvez elas estivessem começando a se tornar inúteis, ao contrário de seus braços que estavam com uma força razoável apesar das condições em que se encontrava. Rapidamente ele começou a engatinhar em direção a porta, suas pernas pediram exercício por bastante tempo, agora, pedem apenas clemencia. Ignorando a dor rapidamente se punha de pé e começa a vagar pelos corredores.
Sentia seus pés o guiarem por todo um caminho um pouco familiar. Sentia uma sensação de que estava indo para o caminho certo, começou a encontrar alguns guardas no caminho, tentava passar por eles discretamente, sabia que não teria chance contra um guarda armado, andava por vários corredores obscuros e passava por câmeras bem localizadas, estava ciente de que os guardas em breve notariam que havia fugido. Havia caminhado por algo que parecia ser 20 minutos, até que ouviu algo que o deixou paralisado. As sirenes de emergência começaram a gritar desesperadamente, podia ouvir de algum alto-falante que um prisioneiro havia fugido.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Raça

O soldado viu o batalhão inteiro cair em sua frente. Suas pernas tremiam, não sabia porque estava com uma arma em sua mão, era um medico, talvez fossem suas habilidades que o havia colocado ali, talvez seja por estar lutando por sua raça. Exigia liberdade para o seu povo, oprimido e quase extinto. Seu coração estava acelerado, em meio as balas ele para ao lado de um soldado, ele parecia agonizar, aproveitar seus primeiros segundos de morte. A mão do soldado brilha enquanto tocava o peito baleado do soldado desfalecido, a bala começa a se mover, ela saia vagarosamente do corpo enquanto a ferida começava a se recuperar. Em alguns minutos o soldado se levanta rapidamente, ele ainda estava vivo.
Enquanto se lembrava dessa cena ele caminhava em direção a sua casa, mantinha sua identidade escondida. Negava sua própria espécie, tentava apenas a sobrevivência. Em seu caminho um garoto é atropelado por atravessar a rua, assistia calmamente a criança morrer nos braços da mãe enquanto ela gritava em desespero.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Deserto

Estava sentando sobre um grande monte de areia, olhava para o céu com uma expressão vazia. Estava só, acima de tudo, sentia-se só. Via apenas as estrelas, as admirava com imensa ternura, tinha apenas era por onde olhasse. Estava em meio a um imenso deserto de areia, estava ali talvez a tanto tempo que nem ao menos lembrava como havia chegado ali. Estava parado sobre a areia, sentado sobre o chão frio de um deserto a noite. A lua iluminava sua cara com ternura e compreensão, não conseguia ver sinal de uma nuvem, sabia que não veria chuva, ao menos não tão cedo.
Sentia a garganta seca, mas se animava ao perceber que nada naquele lugar estava melhor que sua garganta. Pega seu cantil e bebe suas ultimas gotas, agora sabia que era o fim, não tinha mais como se alimentar havia alguns dias e agora chegara ao fim sua ultima gota d'água, olhava ao redor, a unica coisa que poderia fazer naquele momento era pensava. Seus dedos cortam a areia no chão e retira um grande monte de areia, a areia escorre feito água por seus dedos. Começava a lembrar como havia chegado ali, mas aquela lembrança talvez não fizesse tanta diferença, como faria? Estava em meio a lugar nenhum, apenas com a roupa do corpo e um cantil vazio.
Seu olhos se perdiam entre as estrelas, talvez ele tivesse ficado ali por toda eternidade, mas ninguém ali queria sua companhia. Via uma grande tempestade de areia vindo, começou a andar rapidamente em sentido contrário, sabia que não era forte o bastante nem para sobreviver aquela tempestade. Talvez fosse apenas uma tempestade de areia necessário para ele continuar em sua vida. Sabia apenas que parado não ficaria, não ficaria sentado esperando a tempestade chegar.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Tempo

Sentia-se pendurado por dias, sabia que estava ali não mais que 6 horas. Perdeu toda a noção do que havia acontecido, sentia apenas uma dor remanescente, não sabia ao certo o que pensar, deixou sua mente correr, ela agora voltava na sua infância. Sua memória tornava as coisas confusas, não sabia se o que se lembrava realmente havia acontecido, pensava que em um dia na sua vida, aquela lembrança não era apenas uma lembrança, era o momento, queria por mais que tudo voltar naquele dia, lembra que iria viajar com seus pais. Um passado que estava preso em suas entranhas. Não lembrava de muita coisa, mas ao certo lembrava que era feliz, porque ele nunca mais sentiu o que sentia naquela época?
A inocência da infância, o fato de que o passado sempre já foi melhor que o presente, sabia que na sua vida, sempre foi assim, o passado sempre parecia mais saboroso que o presente. Não devia ter mais que cinco ou seis anos, corria por sua casa com flores em sua janela, segurava uma bola em suas mãos. Lembrava da existência do pai e da mãe, mas não lembrava mais de seus rostos.
Sua alma não expressava nada, alem da vontade de estar lá, era tão bom e nesse momento sua memória parecia tão forte que poderia sentir o vento bater em seu rosto. Sentia o cheiro das margaridas na janela de sua casa, corria de uma ponta a outra com total liberdade, liberdade que ele sempre quis e só agora percebe o quanto já foi livre. Não sabia se ele perdeu ou se fora tirado dele, o passado era negro, é algo como a mão da morte o mostrando que sua vida não faz sentido, via que nunca mais poderia recuperar sua felicidade, ela estava presa, perdida no tempo.

sábado, 4 de abril de 2009

Morte

A morte seria vista com mais simplicidade se soubéssemos o que vem após, enquanto não sabemos entramos em mergulho profundo ao medo quando a sentimos se aproximar. O jovem corria entre tiros, carregava seu fuzil, balas passavam zunindo por cima de sua cabeça. Sentiu seu coração parar quando uma bala faz pular um pequeno monte de areia ao seu lado. Inevitavelmente sabia que suas pernas o levavam para o seu próprio fim. Agora via conhecidos, poderia dizer até companheiros, todos caiam, haviam um grande campo de mortos em seu caminho, ao continuar a correr avista mais um soldado caindo no chão. Seus olhos viam o alvo e pela primeira vez apertou o gatilho de sua arma, muitos tiros saíram da arma, três tiros acertaram o alvo.
Seu primeiro alvo abatido, sua primeira vida tirada, mas sabia no fundo da sua alma que seria o ultimo, era o único soldado vivo, havia muitos outros inimigos. Ao ver sua presa desfalecer no chão percebe que agora era a vitima, uma arma atira em sua direção, apagando tudo que via no momento, a única coisa que restava era as trevas, e algo que nunca saberemos, trevas e dúvida, era apenas isso que sobrava da cena. Era apenas isso que sobrava, ou era apenas isso que sabíamos.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Sentidos

Três cegos subiam uma ladeira, o que eles iam fazer ao final do seu caminho, não era importante. O que importava é como esses três cegos se comportavam.
O primeiro cego, era algo que parecia como o líder, apesar de andarem lado a lado, ele tinha o papel de orientar para onde todos iam.
O segundo cego, era algo como o fator que os unia, segurava no líder enquanto andava se mantendo firme demonstrava segurança e firmeza para onde todos iam.
O último cego, segurava o cego do meio, e ia mais atrás que os outros dois, não fazia nenhum papel aparente, quem olhasse de fora, até diria que ele apenas atrasava todos os outros e todos deviam seguir seu caminho. Mas ele exercia o maior papel, ao andar mais devagar em com cautela, lembrava a todos que eram cegos.

Privado dos sentidos ele agonizava, enquanto em seu pranto de dor pedia apenas por um golpe de misericórdia. Amarrado em um tronco ele se debatia em busca de uma saída, apesar de saber que aquilo apenas feria mais seus pulsos. Suas costas derramavam sangue, sentia um filete atravessar todo seu corpo e pingar seus pés. Ao recostar sua cabeça ao seu peito, vencido pelo cansaço, a fazia reclinar para trás logo em seguida, vencido pela dor. Não conseguia mais nem ver, nem ouvir, nem falar. Apenas gritava da dor que sentia.